sexta-feira, 13 de julho de 2012

GIULIARD BORSANDI VI

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Indica-se ler os episódios anteriores: GIULIARD BORSANDI V


Decidi então tomar uma no bar para relaxar, ver gente, não que eu goste de multidões ou de muita gente falando na minha orelha, mas às vezes até um solitário como eu precisa de atenção.

Resolvi parar num bar ali pelo centro mesmo, perto do escritório, para o caso de o álcool me tirar o controle e eu poder ir embora andando sem nenhum acidente.
Não por mim, estou cagando por mim, faço isso pelas pessoas, pois apesar de não ser nenhum humanitário e não me importar por quem vive ou quem morre, não quero ter o peso de tirar uma vida nas minhas costas. Já tenho peso demais, mágoas demais.

Digo que estou cagando por mim porque no caso de um acidente vai ser um alívio. Ora seu maldito! Estou falando de suicídio mesmo, quem nunca pensou nisso? Foda-se!
O Ricardinho talvez, que nunca precisou fazer esforço para nada, teve tudo de mão beijada, tudo que tem foi o dinheiro do pai que comprou, como o cargo de jornalista investigativo que era para ser meu.

Ótimo! Tudo que eu precisava era me lembrar daquele comedor de puta, viadinho. É melhor mesmo eu ir para o bar.
Chego então por volta das 22h00min, a fila para entrar no bar vai da porta de entrada até a próxima esquina. Minha vida já é um tanto tediosa demais para que eu perca meu tempo em filas, logo, vou cumprimentar Guião, o segurança da casa. Ele é amigo do Cabelo e eu o conheci andando pelo prédio de Dom Pedro onde tenho o escritório.
Sim, eu só fui cumprimenta-lo com a intenção de furar a fila, caso contrário eu nem me moveria. Quem é você para me julgar?

 - Como tá Guião?

Não me perguntem o porquê deste nome, pois não saberei responder. Eu só conto a história, quem escolhe os nomes é o autor.

 - Giu, meu chapa! Comé que anda essa força?

Guião me cumprimentou com um abraço que quase quebra minha coluna em pedaços. Toda pessoa grande demais acha que todos temos a mesma força que elas.
Guião é um negro de uns dois metros de altura, chutando baixo e, tantos quilos quanto uma balança pode contar. Puta cara grande, principalmente perto dos meus quase um metro e oitenta e setenta quilos. Um bom cara, apesar de ser assustador, é uma figura.
O grandalhão tem uma leve dificuldade de respirar, muito pela obesidade, afinal sustentar todo aquele corpo só com dois pulmões é um desafio dos grandes, ainda mais com a quantidade de fumo que ele consume. Consume e vende os fumos do Cabelo na porta do bar.

 - Você está me matando Guião!!!

Eu disse quase que sufocado.

 - Porra, foi mal... E então, vai entrar ou está procurando alguém?

 - Hoje eu to de folga, só vou encher a cara.

O segurança então tirou seu corpo gigante do meu caminho para que eu pudesse entrar.

 - Vai lá poeta, pega leve com as meninas.

Passei pelo corredor escuro, virei a esquerda e assim que abri a porta fui atingido por uma onda de fumaça de cigarros -- que era demais até para mim que fumava descontroladamente -- e música alta.

O bar era dividido em duas partes, a pista de dança onde as pessoas dançavam como retardados transpirando em bicas com aquela música eletrônica que faziam meus tímpanos explodirem e ao fundo da pista tinha um palco que era usado por bandas de Rock underground em algumas noites.
Do outro lado era o bar, meu lugar preferido naquele lugar e onde trabalhava Jamaica, a barwoman que fazia os melhores drinks da cidade.

Jamaica na verdade era gaúcha, loira de olhos azuis que pareciam fazer parte da decoração e iluminação do bar. Sardas que cobriam seu pequeno nariz empinado, lábios rosas e cabelos loiros (quase brancos) parafinados estilo dreadlocks até o meio das costas, que ela por vezes deixava-os soltos ou enrolados acima da cabeça que me lembrava um ninho de passarinho. Lá pelos seus 1,70m de altura, magra, com seios perfeitos e braços longos cobertos por tatuagens, todos os dois, e piercing no nariz e no buço.
Parecia um anjo, uma tentação do inferno. Não ficava devendo nada para nenhuma supermodelo dessas grifes famosas, mas ela queria ser barwoman.

Jamaica era tão linda que poderia facilmente fazer-me esquecer de Nelia. Chegamos a transar uma vez no apartamento dela que ficava em cima do bar, porém ela gostava tanto de mulher quanto eu. Logo, tive de me contentar com as lembranças da minha ex-noiva.

Ao lado do bar ainda havia alguns bastões de ferro que subiam do chão ao teto e que algumas strippers dançavam em troca de alguns reais entregue em suas bocas e elásticos das calcinhas pelos velhos gordos que sentavam no bar e tomavam whisky com Tônica.

Fui direto me sentar no bar, é claro. E lá estava Jamaica, sempre absurdamente linda:

 - Olá guri. Quem é vivo sempre aparece.

Ela sorria com aqueles dentes perfeitos meio amarelados devido aos cigarros e percebi que tinha um piercing novo na língua.

 - Boa noite magrela.

Era assim que eu a chamava. - Piercing novo?

 - Você viu? Estou me acostumando ainda... Minha nova namorada tem um e eu fiquei com vontade também.

Ao ouvir "nova namorada" senti um ciúme inevitável e uma inveja gigante da vadia que transava com Jamaica.

 - Fico imaginando onde vai parar essa sua mania de piercing.

 - Se é lá que você está pesando, eu coloquei a semana passada...

Jamaica falava e sorria com sua voz deliciosamente maliciosa e seu sorriso contagiante. Não conseguia me manter alheio a ela. Bastava olha-la e meu corpo tremia como um adolescente babão. Chegava a gaguejar e me embaralhar com as palavras.

 - Pena que eu estou namorando, senão te mostrava.

 - Não fica me provocando que eu te pego aqui no balcão mesmo sua pilantra.

 - Hum... Que delícia.

Era impossível não ficar feliz perto daquele anjo do inferno. Mesmo para um amargo como eu, era impossível.
Jamaica me olhava com seus olhos de piscina e apoiava seus dois braços no balcão, o que fazia seus seios redondos e lindos ficarem juntos e apontados para a minha cara. Só aquilo já me excitava.

 - Vai trabalhar magrela! Me trás uma dose, vai.

Jamaica me trouxe um whisky e uma caneca de cerveja. Misturei os dois e tomei dois goles bem servidos para matar a sede.

Eis que já estou na quarta caneca e começa chegar gente. A casa suporta umas trezentas pessoas talvez, nos dias mais cheios, mas não hoje.
Hoje irá se apresentar uma bandinha meia boca, ninguém conhece, só quem frequenta o bar mesmo. Eu prefiro assim, menos gente roçando em mim.
Conheço a tal banda, tem umas músicas mais ou menos, só o vocalista que me desagrada, bebe demais, grita demais, e dança como se fosse uma lagartixa com esquizofrenia em cima do palco.
De qualquer forma, dá para aguentar.

O bar já está cheio e Jamaica não para. De um lado para outro servindo os recém-chegados. Agora já estou na sexta caneta e consequentemente a sexta dose de whisky. Jack Daniels, abaixo disso é água suja. Quando me surpreendo com uma mulher ao meu lado, num vestido negro que, sentada, quase dava para ver suas nádegas.

- Oi. Posso me sentar aqui?

Ela tinha trinta e quatro anos. Um rosto de mulher que, sim, eu toparia levá-la até meu escritório para olhar debaixo daquele vestido, caso ela não fosse um trabalho.
Ela era Janaina Alves, vocês devem conhecê-la como "mulher do pastor".


Bento.

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