segunda-feira, 1 de julho de 2013

GIULIARD BORSANDI VIII

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Indica-se ler os episódios anteriores: GIULIARD BORSANDI VII

Já passava das duas da manhã e eu agora estava parado em frente uma loja de roupas, do outro lado da rua ficava o motel Libelillun. Janaina deveria estar com muita pressa, afinal, o Libelillun era o motel mais próximo ao bar que estávamos e um pulgueiro frequentado por prostitutas e drogados que perambulavam pelo centro de São Paulo. Totalmente diferente dos cinco estrelas que ela estava acostumada a ir. Eu esperava pegá-la desta vez, levar provas para o pastor e acabar logo com aquele caso.

Lá estava eu, bêbado, com dor no saco, com uma câmera vagabunda na mão e vendo a noite paulistana escorrer entre meus dedos enquanto eu trabalhava. Casais andando de mãos dadas. Casais nos carros se beijando e ouvindo música. Casais por todos os lados. Numa floricultura perto dali havia uma faixa "Comece o dia dos namorados com flores". Então olhei no celular para saber que dia era, não me lembrava. Na tela luminosa de meu telefone marcava dia 11/06. Por motivos óbvios passei a odiar o dia dos namorados.

Estava frio, mas eu transpirava. Podia ver a janela da suíte de Janaina de onde estava, as luzes acesas dava a entender que eles ainda não haviam começado com a transa. Provável que ainda estavam fazendo um brinde. Um brinde a mais um par de chifres na cabeça daquele velho enganador de velhinhas. Comecei a pensar se aquele maldito não merecia tudo aquilo que Janaina fazia com ele. Se não era uma justiça dos infernos com aquele que ganhava a vida traindo a confiança de seus fiéis. Sentei-me na porta da loja de roupas e minha mente invariavelmente passava a dar razão para safada que estava sendo fodida pelo grandalhão fétido no motel à minha frente. Com isso também passei a me arrepender de não ter aceitado o convite da gostosa e que agora, no lugar do sósia do George Michael poderia ser eu.

Sou despertado de meu devaneio por uma viatura da polícia que passa na rua com uma lanterna tamanho família apontada bem para minha cara. - Está tudo bem aí amigo? Perguntou o policial que segurava a lanterna.

Estaria melhor se não houvesse um filho da puta com uma porra de uma lanterna na minha cara, pensei em responder. Ao invés disso: - Tudo ótimo seu guarda, só descansando as pernas. Limitei-me a dizer. Eles provavelmente estavam com tanta vontade de trabalhar quanto eu, logo, partiram.

Porém, pensando aqui comigo, foi até bom eles aparecerem, me fez voltar ao foco. Não estava na posição de julgar o pastor ou mesmo a mulher dele. Estava à trabalho, iria ganhar por aquilo e isso já bastava. Finalmente apagaram as luzes.

Mais vinte ou trinta minutos de espera e caso encerrado. Chega de subir em janelas e telhados, não hoje. Umas fotos bem batidas da delícia que era sua mulher saindo do motel com um brutamontes iria ter de servir para o pastor se convencer que sua mulher era uma vagabunda e finalmente me dar meu dinheiro.

Eu continuava suando e a neblina da madrugada aumentando. Já estava em meu quinto cigarro enquanto aguardava os pombinhos treparem e agora só restavam uns três. Teriam que dar até eles saírem, já não bastava ficar ali sem tomar um trago qualquer de alguma coisa forte?

Meus olhos começaram a ficar pesados e com a sensação de areia dentro. Era o sono me lembrando que já estava muito tempo acordado e que a brisa do álcool estava passando. Eu sabia que bastava uma cochilada e todo meu trabalho poderia ir por água abaixo e seria mais uma semana, no mínimo, para ter outra oportunidade de pegar Janaina no pulo.

Não, era hoje. Bastara a sorte que tive de encontrá-la no mesmo bar que eu costumo ir para ter a certeza que seria hoje. Eu ficaria lá, sentado, no frio, sem cigarros e sem um trago durante a noite toda se fosse necessário. Mas aquilo iria acabar ali. Nunca mais eu iria olhar na cara do pastor ou de Janaina. Levantei-me e comecei dar pulinhos como um pugilista para aquecer e espantar o sono. Mais um cigarro. A luz do quarto se acendera finalmente. Era agora.



Bento.

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