terça-feira, 28 de agosto de 2012

W.O


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Hão de reclamar, assim como reclamam da forma como ando, como falo, como respiro. Falam até do ar da graça que me habita.

Eis que se me perguntarem; quem é o melhor humorista para você? Respondo fácil; eu. Cínico! Vão dizer.

Não. É isso mesmo. Eu. Humoristas do Brasil existem vários muito bons, porém quem me diverte mais sou eu.

Ora, todo o sarcasmo e ironia me diverte mais que qualquer coisa. Trato-me pior que qualquer outra pessoa e me divirto com isso.
Toda compaixão, autopiedade e cegueira que existem nos outros não se aplica a mim. Me trato como um desconhecido sem coração.

Um sarro diário da minha própria cara. É uma autossuficiência do humor. Brigo já sorrindo.

Egoísta. Vão dizer. É isso. Egoísmo do riso. Conto a piada e sou o primeiro que ri. Afinal, eu sou o alvo da piada, sempre. Nada mais justo.

É uma masturbação do humor. Dedico-me a me dar de presente o primeiro riso do dia, depois disso tudo é lucro.

Mas por quê? Por quê? Por quê? Simplesmente porque egoísmo seria depender dos outros até para rir. Se preciso agradar alguém, logo, que este seja eu.

Isto está errado! Vão sentenciar. Pois não serei eu que vou argumentar nem discutir por isso. Não eu. Se disser que está certo estarei dando um mínimo de razão para meu interlocutor, pois num debate sempre há acertos para os dois lados. Ninguém erra totalmente e vice-versa. Neste caso, por minha parte, nada é discutível.

Logo você que debate sobre tudo? Tentarão fomentar. Isto é outra verdade. Digo isso, pois, só é possível treinar argumentos argumentando. Como um jogador que só treina bola jogando.
No ímpeto de conhecer seu desafiante, eis de contrariá-lo, caso contrário, os dois concordam e vão para casa, mudos. Eu procuro o convencimento a todo custo. Abro as portas para me dar uma boa razão de mudar de ideia e apoiar sua causa, só precisa me convencer. Ganhar por W.O não me agrada em nada.



Bento.

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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

ESSA NORMALIDADE QUE ME MATA


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Certa vez eu disse que só me relacionei com santas. Todas inocentes, pessoas perfeitas e puras. Nenhuma dessas mulheres que passaram na minha vida tem nada, mas nada mesmo, para lamentar-se ou se arrepender. Pois bem.

Hoje dormi bem, o que é muito raro. Geralmente pego no sono momentos antes de ter de me levantar para mais um dia árduo de trabalho. Não hoje. Hoje dormi como um defunto. Duvido que não gelei como morto e parei de respirar. Foram mais de doze horas de sono profundo sem despertar nem para atender os desejos da bexiga. Tanto dormi que acordei naturalmente meia hora antes do despertador. Não, não pense que deixarei de chegar atrasado ao trabalho por causa disso, pois existe uma ordem natural para as coisas, um ciclo original, uma força maior para tudo. Assim como a noite dá lugar ao dia, assim como os pulmões exigem ar, assim como os amantes necessitam discutir para voltarem mais fortes, eu tenho de chegar atrasado em tudo. É assim.

Só sei que dormi como um gato e acordei disposto. Muito disposto para o meu gosto. Acordei e no caminho para o trabalho minha mente trabalhava com energia total bolando planos mirabolantes para o decorrer do meu dia. A barriga vazia exalava uma ansiedade e eu sentia-me feliz. Uma felicidade sem motivo, sem compreensão. Me peguei pensando: De onde vem essa felicidade toda? É esse o segredo? É só dormir e pronto?

Uma mente descansada normalmente é uma boa coisa. Só que nada que venha a ser normal se aplica muito bem quando se trata da minha vida. Digo isso porque tudo é uma questão de costume.
Não é tão simples assim, é preciso um tempo de adaptação e, normalidade e tempo são duas coisas que não fazem parte do meu cotidiano, logo, fiquei sem saber como agir. Então uma mente sã e descansada tende a agir com essa tal normalidade para pessoas normais. Já a minha mente, normalmente anda a mil, pensa em coisas que eu não quero pensar. Acelera como um maldito motor possante numa estrada reta e vazia. Já cansada é preciso freiá-la com noites mal dormidas, ressaca e desligamento do mundo. Quando descansada então... Quase entra em pane.

O dia foi passando e me vi desejando bom dia a todos. Fazendo favores para malditos filhos da puta que eu sequer gostava. Me vi tratando todas as pessoas bem, sem exceção. Sem fazer diferença de ninguém.  Entenda, estava eu cometendo uma puta injustiça sem tamanho e, se tem uma coisa de que não gosto, é exatamente essa tal injustiça. Nem todas as pessoas merecem o seu melhor. Se for assim, você coloca tudo no mesmo saco, os monte de estrume com bacanas e se mata. Corte os pulsos, dê um tiro na cabeça, sei lá. Não comigo amigo. Não trabalho desse jeito. Tomei uma atitude até então, drástica.

Meti o pé na porta do bar, acordei o dono daquele moquifo e ordenei: quero essa garrafa de conhaque, agora!

O cidadão ainda com seu pijama meteu a cara na janela: - Mas ainda são nove da manhã, me deixe dormir.

 - E daí? No Japão já são nove da noite e passou da hora de beber - Eu retruquei e passei a próxima hora tomando doses cavalares de destilado amargo, como a vida deve ser.


Bento.

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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

MALDITA SEJA A ESPERANÇA


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A pior coisa que existe chama-se; esperança.
Eu não me importo de estar no fundo do poço. Não me importo com os olhares de desaprovação como quem diz; tinha uma vida toda pela frente...
Não me importo.
Fazemos só aquilo que queremos fazer.
Somos quem podemos ser como já dizia um certo engenheiro famoso.
Estou cagando para o que acham ou deixam de achar sobre qualquer coisa que eu venha fazer ou escrever.

Se minhas linhas causam-lhe perturbação ou fervor.
Se às vezes pareço um suicida ou um beberrão desiludido e sujo.

O que me dói, o que me faz ter as tripas retorcidas como uma cólica pré-menstrual. O que me faz verdadeiramente querer quebrar a garrafa de destilado ainda cheia, desperdiçando assim o néctar dos deuses e enfiar os cacos em minhas artérias, é a esperança.

Nunca pedi por afagos. Nunca supliquei por compreensão. Cada um com seus problemas, eu não o ajudo com os seus e você não se mete nos meus. Vamos combinar que somos todos egoístas em busca de algo melhor para nós e pronto.

Não me façam de vítima que eu não me faço de herói. Se não posso ter a felicidade plena, também não quero esmolas.
Não sou eu quem vai pedir nada em troca. Deixei de pedir qualquer coisa há muito tempo e sinto que nada mudou. Sou eu, um Bon vivant admirador de fotos e sorrisos congelados e estava muito bem assim, obrigado.

Era sempre como um olhar desapercebido da calúnia que estava cometendo comigo mesmo.  
Sei que não é nada romântico. Mas imagine alguém apertando minhas bolas com toda força. Se acha que é pouco, use uma prensa. Imagine os olhos saltando das órbitas de tanta dor e a boca seca querendo engolir a própria língua. Tente imaginar seus ossos sendo quebrados em infinitas partes enquanto você ainda se mantém acordado mesmo com a dor. Tente pensar como é ter suas unhas retiradas por alicates à sangue frio com você suplicando misericórdia ao léu, sem ninguém para ouvi-la. Imaginou? É assim que me sinto quando olho uma fotografia sua. Porém repito, estava muito bem, obrigado.


Até alguém me dar uma porra de esperança de que um dia...
Um dia...

Isso tudo que me mata. O fundo do poço não é um lugar tão ruim assim. Pelo menos te isola das notícias boas. Àquelas notícias boas sem você.

Eu sou como um ex-viciado. Serei dependente até a morte. E um viciado em heroína, quando frente à frente com uma seringa se corrompe de imediato.
No meu caso, a heroína é você. A seringa são as pessoas dizendo que você pode tomar rumo e voltar a criar raízes, pois seu homem já não lhe serve mais, assim como eu também não lhe servi um dia.

Calma, calma. Essa esperança está dentro de mim, você não tem culpa nenhuma. Mas sou um viciado, lembra-se?

Qualquer menção ao seu nome me faz babar como um retardado. Qualquer proximidade do seu corpo me faz tremer. Voltamos à dependência de ocasião e minha clínica de recuperação é o exílio, como sempre.

Até quem sabe, um dia.


Bento.

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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

TCHAU PARA QUEM FICA. ESCREVER, ESCREVER, ESCREVER

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Está todo mundo indo para casa, parece. Tudo é cheio. Hora do rush tudo é cheio.
Quando você está prestes a deixar um lugar durante muito tempo parece que todos te reparam. E você repara em todo mundo.

Cheguei na sala de aula e não havia ninguém. Peguei um café e comecei a ler meu livro. Estava quase no fim, era um livro fino. Pena. O livro era bom.
No meio da leitura começou me dar um desassossego. Não! Não era essa a palavra. Era desespero mesmo. Tanto que me perguntei: "O que exatamente eu to fazendo aqui?”.

Já tinha sentido isso antes e fui ver a mostra do Raul numa estação de metrô.
Voltei no dia seguinte. Só que desta vez era diferente, não sei bem. Queria sair dali, era só isso que eu queria.
Eu comecei a pensar no quanto de dinheiro estava gastando com aquilo e percebi que não tinha a quantia. Um dinheiro que eu não tinha. Era isso! A conta não fechava.

Olhei em volta e os outros alunos começaram a chegar e me cumprimentar. "boa noite, boa noite", é segunda-feira, o que tem de bom? Quero meu quarto, meus textos e um trago.
Escrever é o que eu queria, porra!
Mas escrever não me dava dinheiro e aquela sala roubava meu dinheiro. Ou tomava seja a palavra certa, tanto faz.

Escrever não paga nem o cigarro, por isso tenho de trabalhar. Estudar não estava melhorando minha escrita, pelo contrário.
Estudar consumia meu dinheiro e atrapalhava a escrita. Aí pensei: "vou sair daqui" e parece que as pessoas reparam mais em você quando se está partindo.

Isso é uma merda. Dei uma última olhada nos outros alunos e parti. Ao descer as escadas encontrei todo o resto dos alunos perguntando onde eu ia. "Aonde vai? Aonde vai?" Foda-se onde vou. Não disse, mas poderia.

Mas eu sou dramático. Foi uma saída à francesa, como se fosse um adeus final. Não era nada disso, volto, ainda volto. Quando não sei, nem sei se volto, posso morrer amanhã. Pretendo voltar. Preciso me despedir do bar também, mas não hoje, um dia venho só para isso. Enquanto isso, vou. Preciso desafogar.

As contas precisam fechar, caso contrário, não estudo, não escrevo, só penso em contas. Simples assim.
Mas escrever é o que me dá mais prazer. Não preciso de mais nada, escrevo e pronto. Uns tragos, cigarros e algo para matar a fome e é só. Estudo só para poder viver da escrita, quem vai querer ler um cara que só escreve? Só um cara? Quem é esse cara? Não, tem que ter mais alguma coisa.

Sempre vi nesse tempo todo no bar uns mauricinhos que têm seus estudos pagos pelos pais passando o ano todo sentado na mesa do boteco reclamando da vida e do atraso nas matérias. Claro, ficam sempre no bar. Veja, não sou santo, também matei meia dúzia de aulas pelo bar. E daí? Não vou reclamar. Se não posso, não faço. Desistir de lutar é uma coisa. Insistir em tomar soco de um valentão com o triplo de seu tamanho e peso é burrice. A vida ensina, não tem atalho. Não para um tipo como eu.

Curioso é que escrever tem sido melhor até que transar. Prefiro.
Se dissesse isso há dez anos daria risada na minha própria cara e diria: "tá louco!" Sim! Quem não está louco está morto, acha que está vivo, mas está morto. Mortinho da Silva.

Reflito para ver se é isso mesmo e não tenho dúvidas, prefiro mesmo.
Escrever me faz bem, toma tempo, só que bem pouco. Não me custa nada e não tenho de ouvir reclamações do teclado me perguntando se vou ligar no dia seguinte. Ligo, eu sempre ligo, nem que seja para dizer: "vamos ser amigos, ok?"

Prefiro transar com as palavras porque tem sido mais prazeroso. Sou meio de fase, minha fase hoje é aquela de exclusão, não sei o que é. Com raríssimas exceções eu preferia me excluir.

Quando se passa muito tempo sozinho como eu você aprende a dar valor a quem te faz companhia e não cede seu tempo para qualquer pessoa. Você se acostuma e fica exigente ao mesmo tempo. Traduzindo: UM CHATO! Mas é isso que eu sou, um velho chato. Mas é isso que eu sou. Paciência.

Então repenso e não tenho dúvidas, escrever tem sido melhor que transar.
Faço isso só, a hora que eu quiser e quando não quero ligo a TV para matar o tempo. Tomo uns tragos, fumo, mato o tempo. É isso que eu faço e não ganho um puto para isso. Fazer o quê? Vivo disso, salvo a alma pelo menos. Salvo a alma enquanto ainda vivo, depois de morto que se foda.


Bento.

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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

NÃO É ÓDIO, É PRAZER


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Existe a incompatibilidade de gênios que deriva das situações mais estranhas possíveis. Pode ser qualquer um, vizinho, colega de trabalho ou faculdade, ou parente. Tanta incompatibilidade que se por um acaso, alguém que se enquadra nisso estiver passeando na rua, assim como quem não quer nada, feliz da vida de assoviar, passeando e de repente um caminhão enorme o acerta em cheio, no meio da rua enquanto atravessava e o caminhão esmaga-o espalhando órgãos por toda a via como se fosse um festival da carne. Tripas, rins, fígado, intestinos, todos pendurados nos fios elétricos, colados nas vitrines das lojas e menus dos restaurantes. Tudo como se fosse uma feijoada crua self-service. Acredito que se houvesse uma incompatibilidade de gênio você nem ficaria tão triste, duvido que gerasse mais que um comentário no seu dia "você não sabe quem morreu...", não mudaria em nada sua vida.

 É assim que eu me sinto com a grande maioria das pessoas que estão a minha volta. Não vou aqui premeditar qualquer desculpa ou autodefesa, pois sei que essas pessoas estão cagando para isso, apesar de um número mínimo de dois ou três idiotas que ficarão melindrados com a sinceridade.

Também não vou me eximir de culpa, afinal, isso se deve a um pequeno trauma de personalidade causado exatamente por outras pessoas que deveriam ser atingidas por raios, tendo assim seus corpos incinerados instantaneamente, fazendo um grande churrasco a céu aberto, os dedos colados pela pele derretida devido ao calor e seus olhos arremessados em cima dos passantes ocupados demais para notar retinas voadoras vindo em sua direção.

Você não será uma pessoa má por ter pensamentos assim, muito menos atrair coisas ruins para você. O que vai te fazer um mal danado é tentar enganar-se e insistir numa simpatia que não agrada nem você, nem o odioso.
Guardar os sentimentos é o que faz surgir os psicopatas. Pensar em fazer não é pecado. Errado é fingir que deseja o bem para pessoas que só querem massagear seu reto da maneira mais sacana possível.

Sei que parece um tanto grosseiro, mas não me entenda mal, não é desejo, é uma constatação, pode acontecer com todo mundo. Se por acaso acontecer com alguém que eu não tenha tanta afetividade assim, seria interessante.

Também não vou dizer que isso trata-se de ódio explícito, é mais como tédio, uma monotonia tamanha que precisa de vez em quando de uma distração para tornar o dia-a-dia mais tragável.

Alguém aí tem um caminhão?


Bento.